quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ferrugens

As ferrugens saem das minhas juntas como uma poerinha laranja, e fica pairando pelo ar em minúsculas partículas de tempo, esquecimento, escassez. Estico meus dedos na tentativa de que eles voltem à velha forma de antes, no auge, no calor da coisa. No estado imóvel, onde a inércia age e reage, ao sabor do tempo – sol e chuva – que corrói, a química que destrói o corpo, ou ele que sucumbe a todo resto. Como espasmos de consciência, que pedem sempre o acompanhamento de outras consciências concordantes com objetivos absurdos, ou inconsistências de opiniões, ou achismos. Todos os dias as portas se abrem, janelas se fecham, pessoas desconjuntadas acotovelam-se para alimentar seus filhos, a si mesmas. Todos os dias pelas frestas das portas saem às borboletas invisíveis, as baratas voadoras, que durante o sono perturbaram o sonhar.

Num dia frio que faz meus dedos ficarem roxos, o frio sempre remete a desolação, a estagnação, cotidiano. A dor também faz parte, no corpo, a dor da alma vai sempre existir, os poetas que o digam, tantos a cultivam como plantinhas no fundo do quintal, as acham até bonitinhas no final das contas. Ou a doença faz observar a outra face, aquela a qual dá a tapa, e doe, e encontra os joguetes infinitos do destino, mergulha em aflições imaginarias e por fim se perde nas ruas molhadas, mal iluminadas de uma cidade em pleno desenvolvimento.
A.A.