Ontem quando ia apressada ao trabalho com a cabeça a mil fui parada por um menino de rua, sou às vezes muito perspicaz e em algumas situações minha percepção aumenta de mais. Percebi que havia outro garoto a uns poucos metros de distância nos observando, o que me interceptou perguntou se tinha um real que poderia dar. Disse que não, o comparsa dele ficou por ali e por lá, olhando, espreitando, fiquei tensa sabia que dali ele poderia puxar minha bolsa e correr e eu ficaria estática, pois pra mim era uma criança - deveria ter a idade da minha irmã - e apesar de qualquer coisa ainda era uma criança. Repeti de novo que não tinha nada pra dar e fiz o que em muitos momentos não faço com alguém que não conheço, olhei-o nos olhos.
Ele desviou o olhar e não disse mais nada, foi embora ele seu companheiro de rua. Fiquei por alguns minutos parada, olhei para os lados tudo e todos muito apressados passavam sem perceber o que havia ocorrido, continuei meu caminho quando cheguei ao trabalho, livrei-me do calor e então meu cérebro começou a refletir: Pra onde aquele menino vai agora? De onde aquele menino veio? Por que ele não fez o que eu achava que ele ia fazer? Passei o dia tentando responder estas perguntas, mas pra compensar surgiam outras, assim como uma revolta com um pseudo discurso inflamado sobre o governo desta cidade e a falta assistencialismo a estas crianças. Entretanto o questionamento mais profundo foi: O estou fazendo algo pra ajudar aquele menino e outros como ele? E infelizmente está é a única pergunta que sei responder: não estou fazendo nada. Naquela mesma idade eu brincava na rua da minha casa e minhas únicas preocupações eram estudar, as molecagens que aprontava junto a minha turma da rua 174, a rixa com os guris da rua 175 e as corridas de bicicleta com o pessoal da rua 172 do Núcleo 15. Quanto aquele menino, captei em seus olhos que sua lei era sobreviver, vi que a cola que cheirava era para passar sua fome, vi que provavelmente endurecido pelas ruas provavelmente nunca saberia amar alguém sem desconfiar muito. Mediante disso senti o peso dos meus problemas diminuírem de tal forma e tornarem-se insignificantes até, pois ao ver a realidade nua modificou algo aqui dentro do meu “eu” quando descubro que todas as besteiras que fiz, minhas reclamações sobre a vida, minha falta paciência são na verdade pura tolice de menina mimada que tem tudo e mesmo assim ainda ousa reclamar da vida.
Aquele menino quando foi embora levou de mim minha ingenuidade ao achar que somente eu sofro, levou consigo também um pouco do meu egoísmo e hipocrisia, fincou em mim uma idéia. Olhei-me ao espelho hoje e entendi um pouco o que devo fazer com o que não sei fazer, entendi que tenho sorte porque tenho tudo o que possivelmente aquele garoto não possui. Compreendi que se puder construir algo de bom na minha vida, e eu sei que vou, posso dividir e multiplicar. E ratificou um pensamento: Uma criança é sempre criança não importa o lugar e circunstância, não importa olhar e dor que carrega em seu peito.
Ele desviou o olhar e não disse mais nada, foi embora ele seu companheiro de rua. Fiquei por alguns minutos parada, olhei para os lados tudo e todos muito apressados passavam sem perceber o que havia ocorrido, continuei meu caminho quando cheguei ao trabalho, livrei-me do calor e então meu cérebro começou a refletir: Pra onde aquele menino vai agora? De onde aquele menino veio? Por que ele não fez o que eu achava que ele ia fazer? Passei o dia tentando responder estas perguntas, mas pra compensar surgiam outras, assim como uma revolta com um pseudo discurso inflamado sobre o governo desta cidade e a falta assistencialismo a estas crianças. Entretanto o questionamento mais profundo foi: O estou fazendo algo pra ajudar aquele menino e outros como ele? E infelizmente está é a única pergunta que sei responder: não estou fazendo nada. Naquela mesma idade eu brincava na rua da minha casa e minhas únicas preocupações eram estudar, as molecagens que aprontava junto a minha turma da rua 174, a rixa com os guris da rua 175 e as corridas de bicicleta com o pessoal da rua 172 do Núcleo 15. Quanto aquele menino, captei em seus olhos que sua lei era sobreviver, vi que a cola que cheirava era para passar sua fome, vi que provavelmente endurecido pelas ruas provavelmente nunca saberia amar alguém sem desconfiar muito. Mediante disso senti o peso dos meus problemas diminuírem de tal forma e tornarem-se insignificantes até, pois ao ver a realidade nua modificou algo aqui dentro do meu “eu” quando descubro que todas as besteiras que fiz, minhas reclamações sobre a vida, minha falta paciência são na verdade pura tolice de menina mimada que tem tudo e mesmo assim ainda ousa reclamar da vida.
Aquele menino quando foi embora levou de mim minha ingenuidade ao achar que somente eu sofro, levou consigo também um pouco do meu egoísmo e hipocrisia, fincou em mim uma idéia. Olhei-me ao espelho hoje e entendi um pouco o que devo fazer com o que não sei fazer, entendi que tenho sorte porque tenho tudo o que possivelmente aquele garoto não possui. Compreendi que se puder construir algo de bom na minha vida, e eu sei que vou, posso dividir e multiplicar. E ratificou um pensamento: Uma criança é sempre criança não importa o lugar e circunstância, não importa olhar e dor que carrega em seu peito.
A. A.