quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Menino


Ontem quando ia apressada ao trabalho com a cabeça a mil fui parada por um menino de rua, sou às vezes muito perspicaz e em algumas situações minha percepção aumenta de mais. Percebi que havia outro garoto a uns poucos metros de distância nos observando, o que me interceptou perguntou se tinha um real que poderia dar. Disse que não, o comparsa dele ficou por ali e por lá, olhando, espreitando, fiquei tensa sabia que dali ele poderia puxar minha bolsa e correr e eu ficaria estática, pois pra mim era uma criança - deveria ter a idade da minha irmã - e apesar de qualquer coisa ainda era uma criança. Repeti de novo que não tinha nada pra dar e fiz o que em muitos momentos não faço com alguém que não conheço, olhei-o nos olhos.
Ele desviou o olhar e não disse mais nada, foi embora ele seu companheiro de rua. Fiquei por alguns minutos parada, olhei para os lados tudo e todos muito apressados passavam sem perceber o que havia ocorrido, continuei meu caminho quando cheguei ao trabalho, livrei-me do calor e então meu cérebro começou a refletir: Pra onde aquele menino vai agora? De onde aquele menino veio? Por que ele não fez o que eu achava que ele ia fazer? Passei o dia tentando responder estas perguntas, mas pra compensar surgiam outras, assim como uma revolta com um pseudo discurso inflamado sobre o governo desta cidade e a falta assistencialismo a estas crianças. Entretanto o questionamento mais profundo foi: O estou fazendo algo pra ajudar aquele menino e outros como ele? E infelizmente está é a única pergunta que sei responder: não estou fazendo nada. Naquela mesma idade eu brincava na rua da minha casa e minhas únicas preocupações eram estudar, as molecagens que aprontava junto a minha turma da rua 174, a rixa com os guris da rua 175 e as corridas de bicicleta com o pessoal da rua 172 do Núcleo 15. Quanto aquele menino, captei em seus olhos que sua lei era sobreviver, vi que a cola que cheirava era para passar sua fome, vi que provavelmente endurecido pelas ruas provavelmente nunca saberia amar alguém sem desconfiar muito. Mediante disso senti o peso dos meus problemas diminuírem de tal forma e tornarem-se insignificantes até, pois ao ver a realidade nua modificou algo aqui dentro do meu “eu” quando descubro que todas as besteiras que fiz, minhas reclamações sobre a vida, minha falta paciência são na verdade pura tolice de menina mimada que tem tudo e mesmo assim ainda ousa reclamar da vida.
Aquele menino quando foi embora levou de mim minha ingenuidade ao achar que somente eu sofro, levou consigo também um pouco do meu egoísmo e hipocrisia, fincou em mim uma idéia. Olhei-me ao espelho hoje e entendi um pouco o que devo fazer com o que não sei fazer, entendi que tenho sorte porque tenho tudo o que possivelmente aquele garoto não possui. Compreendi que se puder construir algo de bom na minha vida, e eu sei que vou, posso dividir e multiplicar. E ratificou um pensamento: Uma criança é sempre criança não importa o lugar e circunstância, não importa olhar e dor que carrega em seu peito.
A. A.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Dindinha


Ceumar
Composição: Zeca Baleiro


Divinha o que primeiro
Vem o amor vem dindim
Dindinha, dê dinheiro
Carinho e calor pra mim

Minha casa não tem porta
Minha horta não tem fruta
Quem me trata é moura torta
Língua morta quem te escuta
Meu tesouro é uma viola
Que a felicidade oculta
Se a vida não dá receita
Eu não vou pagar a consulta

Sob o céu azul me deito
Me deleito, me desnudo
Coração dentro do peito
Não foi feito pra ter tudo
A mentira é uma princesa
Cuja a beleza não gasta
E a verdade vive presa
No espelho da madrasta

Eu nasci remediado
Criado solto no mundo
Se viver fosse reisado
Se eu me chamasse Raimundo
Andorinha no inverno
Beijo terno alma boa
Escrevi no meu caderno
Não passei a vida à-toa

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sossego


Quando perco a razão,
Dou vazão à fenda em meu peito
Dela sou par, irmã...
Mas aí a ponta dos teus dedos
Roça em meu rosto toca os meus cabelos.
Faz-me sereno como chuva breve
Arranca do meu cerne toda a tristeza
Ao imbuir-me com leveza
E permito fluir as cores, os sabores e muito mais.
Deixo correr o meu rio sem nome
Onde navego com a calma que o teu toque me traz
Esqueço da dor que me absorve,
Das luas esquecidas, as chuvas perdidas.
A liberdade adiada
Do amor em pedaços
Encontro meu remanso
Minha quietação
Meu coração
Em tuas mãos.


A.A.


*Ao coração.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Giro


Ontem o mundo girou e roubou do homem o contentamento.
Trouxe do giro rápido em pensamento...
Flagrou o tempo...

Ontem o giro deixou de ser rotação.
Buscou o que podia e testou a invenção
O homem Criou a emoção...

Ontem o homem passou da curva
Deu ao rio tudo o que podia, fez a água turva.
Banhou-se na chuva...

Ontem o mundo, o homem, o giro e a dor,
Misturaram-se em tinta, som e amor...
Ontem o mundo pensou...
O homem girou...
E o Amor...
Virou cor.
A.A.

Praga

Interprete: Ceumar
Compisição: Dante Ozetti

Como que cê fala que eu to fadada a ser um monstro que eu não sou...
Como que cê fala que sou bruxa toda estropiada se eu não sou...
Você fala tanto que até sinto que deu bruxa em mim.
Como eu sei?
Fiquei Ruim...

Como que cê fala que eu sou matraca, grilo falante se eu não sou...
Como que cê fala que sou praga de urucubaca se eu não sou...
Você fala tanto que até sinto que deu praga em mim.
Agora eu tô que tô assim...

Vem ver a bruxa baixou.
Tudo broxou, manchou a paz.
Sim, o monstro mostrou.
Antros de dor, mantras fatais.
Sim, matraca atracou.
Tudo entregou, falou demais.
Viu, a praga pregou e não desprega mais...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Achou!



Ceumar
Composição: Dante Ozzetti

Investir
É cultivar o amor
Se despir
É ativar
Resistir
É aturar o amor
Insistir
É saturar

Aderir
É estar com seu amor
Adorar
É superstar
Aplaudir
Até sentindo dor
É amar

Quem puder
Viver um grande amor
Verá

Consentir
É educar o amor
Seduzir
É cutucar

Amarei!
É conjugar o amor
Não amei!
É enxugar
Avançar
É conquistar o amor
Amansar
É como está

Como estou
Com muito amor pra dar
Eu dou!

Quem estiver
Atrás de um grande amor
Achou!
*Verdades sobre o amor. Eu sou esta música...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Minha Estrada, minha Colheita


Ontem foi descrito como tranqüilo, as pessoa estavam nas calçadas de suas casas, provavelmente conversando sobre a vida alheia, as crianças brincavam aqueles antigos jogos de rua, suadas até alma de tanto correr. Estava quente e eu havia firmado em mim que ainda iria chover, e o quê me faria feliz em ver as gotinhas de chuva caírem? Ontem eu parei de pensar no que sempre me perturba, por alguns míseros minutos pensei no futuro. A noite esta meio nublada, a lua nem a vejo mais, minha velha companheira de noites tristes, das quais muitas vezes sentei-me no meio fio e chorei e somente ela me observava, nesta noite escondia-se lá em cima, chateada com a minha pessoa. Pensei no futuro, prometi que deixaria de ser medrosa, o medo faz das minhas ações tolas as vezes. Uma sentimento tão impensado, mal calculado, e eu em forma de gente perco-me em todos os momentos que preciso viver de verdade, ser alguém, uma construção de outrem. Martelando sempre, em o que virá, em o que nunca virá. Faço menina a aparente mulher, e corro de pavor para meu próprio colo, contar o que é inútil é inútil. Segredos devem ser segredos sempre, e contados podem afastar sem querer, e a fortaleza ruir por não querer nunca calar-se. Ou não, quando dividir? Escolho muito o que vou dividir, até porque não sei até que ponto sabem de mim, até onde podem agüentar... Ontem vi as pessoas rindo da vida alheia, quando passou pela minha cabeça se quero sentar-me a calçada e rir assim? Acredito que gostaria de rir da minha própria vida, e isso não teria receio de dividir, os risos da minha vida, assim sentada a porta de uma antiga mais alegre casa, velha de tanto plantar, mas bem feliz de ter colhido o que colhi.

sábado, 19 de janeiro de 2008




Quando lembro desta época do ano, em anos passados, percebo que nunca vi tantas chuvas, tantas nuvens carregadas sobre a cidade, céus avermelhados a noite e nem tantos ventos vindos de não sei onde. Sei também que sou jovem de mais e não perguntei ainda a ninguém bem mais velho se tem a mesma impressão que eu de que estes últimos dias, meses, o céu tem chorado deveras e com intensidades diferentes, oras raivoso, oras um choro como aqueles quando se escuta uma música triste. Parece também que isto reflete nas pessoas e ando por aí observando (aprendendo) os olhares, o estado de espírito, os olhos são sempre melancólicos, saudosos de algo. A temperatura caí e junto a ela o ânimo e rostos sérios surgem meio à vida, feições introspectivas. O frio provoca isso? Talvez sim, e da mesma forma afeta o ambiente, a cidade admite uma nova feição e cores diferentes aparecem ao contrário dos tons sempre tão vivos, as cores se apagam um pouco e dão lugar a tons opacos, sóbrios.
Sobriedade nesses tempos de chuva, tristezas nesses tempos de chuva, perdas irreparáveis nesses tempos de chuva, lágrimas nesses tempos de chuva. Não irei esquecer esses tempos, marcados com amor, dor, saudade e responsabilidade, homens tornam-se meninos e mulheres em castelos, onde a chuva acalenta e faz adormecer, e às vezes lava os pecados mais sujos da alma.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Trilha sonora...


Ultimamente o que povoa este blog são musicas. Meus dias são embalados por elas, muitas delas, e é indefinível contá-las. Em todos os momentos há sempre uma que se encaixa perfeitamente, e a outras que ao se ouvir lembra instantaneamente alguém.
Meu reino por musicas, melodias, notas e acordes...
Meu reino por tristezas cantadas e alegrias em forma de canção...
Meu reino por amor musicado e raiva gritada...
Meu reino por morrer em som, voz e letra...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Stormy Weather



Billie Holiday
Ted Koehler / Harold Arlen


Don't know why there's no sun up in the sky
Stormy weather
Since my man and I ain't together,
keeps rainin' all the time

Life is bare, gloom and mis'ry everywhere
Stormy weather
Just can't get my poorself together,
I'm weary all the time
So weary all the time
When he went away the blues walked in and met me.
If he stays away old rockin' chair will get me.

All I do is pray the Lord above will let me
Walk in the sun once more.
Can't go on, ev'ry thing I had is gone
Stormy weather
Since my man and I ain't together,
keeps rainin' all the time


Sobre a minhas reflexões de vida, outra música que fala sobre a espera do alguém, keeps rainin' all the time... Aqui vai duas versões, uma de Ethel Waters e uma outra que não identifiquei a autoria, prometo procurar.

Nota: vela a pena procurar pelas gravações com Billie.





domingo, 13 de janeiro de 2008

Faltando um Pedaço


Composição: Djavan

O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha:
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha

O amor é como um raio galopando em desafio
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho

O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços


Essa música, resume o que eu muitas vezes já tentei fazer: dizer que o amor, pode te deixar tão leve e fazer voar, ou tão pesado como bolas de chumbo presa aos pés, no fundo de um rio, morre-se afogado, quebrado, magoado...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Castelos

Eu sempre constrí os meus castelos
em terrenos cediços e de areia,
porque os fiz de sonhos e de idéias,
e não fiz nada para protegê-los

Embora eu só buscasse, meus anelos,
A poesia que corre em minhas veias,
Só recebi lições de coisas feias,
submetido a sórdidos modelos

E hoje Amor*, ao mirar-me num espelho,
vejo a face do poeta quase velho,
mas com um jovem sonho a florir

E absorvo de ti toda a energia
que o alto astral, num passe de magia
me ensina a outros castelos construir

Alcides Werk

*Coração.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Não há...


Em todas as esquinas
Disperso em olhar
Tem seu brilho tão incomum

Nas mesmas ruas
Todos os dias
Nas andanças do sempre
O mesmo brilho incomum
Transformado em vázio
Lembranças do eu
Fora de si
Em uma única esquina
Faz-se luz
E tudo quanto mais
Adormece...
A espera do fim

Solitário e ao seu redor
As ruas gritam
As pessoas se calam
E as casas desmoronam

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Caminhada


Caminho sempre e até onde chegar...
Onde irá, não sei, somente caminho.
Desgastando minhas solas
Soldadas no vento, no tempo a esmo...
Solta, mas presa ao chão.
Sem poder voar.
Andar.
Mais.
Vincent Van Gogh_Sapatos

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Introspecção e um gato...


Recorrente meu nome sibilar em conversas, como um contraponto a tudo que é normal e conveniente para alguém. Ou seja, sou a imagem do avesso, do que sempre vai contra a maré, então que maré e essa? Por onde ela irá me levar se decidir reder-me? Não entendo muito bem a que nível gostariam que me atrelasse, ou talvez não se convencessem de que eu realmente tenha nascido gouche, sem explicações simples. Por isso esses contrapontos são na verdade tudo que tenho e sou, e como não é “normal” (o que é normal?) recebo o rotulo de desajustada.
Atribuo parte dessa culpa a mim. Não me abro e há certa resistência intrínseca que me impede de falar, uma desilusão pode ter desencadeado isso, porém não quero entrar nesse mérito agora. E o que é aceitável então? Fazer pose de boa menina, certinha e bonitinha, quando não me reconheço como tal? Ser verdadeiramente arrogante e dissimulada, como em alguns momentos sou taxada? Isso parte-me em duas todos os dias. Porque não possuo a intenção de esfregar quem sou na face de ninguém, até porque em muitos momentos está bem explicito e visível do que imaginam, assim como também não quero explicar minhas ambições, que ao contrário de tudo que pensam e falam, são simples e como uma vez refleti as mais difíceis de serem alcançadas.
Indefinivelmente, como no sentido da palavra, não há muito para onde correr. Incompreensão sempre existirá, mas e a tolerância? E eu compreendo as pessoas ao meu redor como deveria? A culpa é minha, admito, mas quem irá resistir até o final neste cabo de guerra frustrante.
Eu sou covarde...
Tenho medo...
Pode-se mudar sem transformar a sua essência?


******

Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
Guarda essas garras devagar,
E nos teus belos olhos de ágata e aço
Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias
Tua cabeça e o dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delícias
De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo
Como o teu, amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés a cabeca, um fino
Ar sutil, um perfume que envenena
Envolvem-lhe a carne morena.

Charles Baudelaire

Loucura descalça


Descalça, pés sujos,
Na calçada semi escura,
Tocando o muro branco,
O chão cinza,
O coração estranho...

Balbuciando uma razão
Sem sentido, sem forma,
Que contorna e ultrapassa
Uma barreira que não se vê
Só têm...

Velha, insana, carcomida...
Por dentro e por fora,
Sem medo, sem dor, nesse mundo
Tão cheio de rancor
Só há ela nesse pequeno mundo de ninguém

Só a vejo nesse meu mundo sem ninguém
Minha pobre alma...
Frente a liberdade de sonhar
Sem ter culpa ou penar por ser
Só sei ser assim...
Ninguém ensinou-me a ser mais alguém

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Perdendo Dentes



Pato Fu
Composição: John/Fernanda Takai


Pouco adiantou
Acender cigarro
Falar palavrão
Perder a razão

Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém

Acho que eu fico mesmo diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor

As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrançaPra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci

Pouco adiantou
Acender cigarro
Falar palavrão
Perder a razão

Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém

Acho que eu fico mesmo diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor

As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci

As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci