segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Introspecção e um gato...


Recorrente meu nome sibilar em conversas, como um contraponto a tudo que é normal e conveniente para alguém. Ou seja, sou a imagem do avesso, do que sempre vai contra a maré, então que maré e essa? Por onde ela irá me levar se decidir reder-me? Não entendo muito bem a que nível gostariam que me atrelasse, ou talvez não se convencessem de que eu realmente tenha nascido gouche, sem explicações simples. Por isso esses contrapontos são na verdade tudo que tenho e sou, e como não é “normal” (o que é normal?) recebo o rotulo de desajustada.
Atribuo parte dessa culpa a mim. Não me abro e há certa resistência intrínseca que me impede de falar, uma desilusão pode ter desencadeado isso, porém não quero entrar nesse mérito agora. E o que é aceitável então? Fazer pose de boa menina, certinha e bonitinha, quando não me reconheço como tal? Ser verdadeiramente arrogante e dissimulada, como em alguns momentos sou taxada? Isso parte-me em duas todos os dias. Porque não possuo a intenção de esfregar quem sou na face de ninguém, até porque em muitos momentos está bem explicito e visível do que imaginam, assim como também não quero explicar minhas ambições, que ao contrário de tudo que pensam e falam, são simples e como uma vez refleti as mais difíceis de serem alcançadas.
Indefinivelmente, como no sentido da palavra, não há muito para onde correr. Incompreensão sempre existirá, mas e a tolerância? E eu compreendo as pessoas ao meu redor como deveria? A culpa é minha, admito, mas quem irá resistir até o final neste cabo de guerra frustrante.
Eu sou covarde...
Tenho medo...
Pode-se mudar sem transformar a sua essência?


******

Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
Guarda essas garras devagar,
E nos teus belos olhos de ágata e aço
Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias
Tua cabeça e o dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delícias
De afagar-te o elétrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo
Como o teu, amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés a cabeca, um fino
Ar sutil, um perfume que envenena
Envolvem-lhe a carne morena.

Charles Baudelaire

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