
Quando chegamos no “quinze” (carinhosamente falando), na Rua 174 só haviam três casas habitadas contando com a minha, morávamos em um embrião de dois quartos e daí minhas primeiras lembranças eram estar sentada a porta de casa e observar a solidão da rua e sinceramente isso deixava-me chateada. Mais tudo isso logo mudou, cresci e na mesma proporção o “meu” bairro também, então todo aquele lugar abandonado e até um pouco assustador começou a abrigar vidas como a de pessoas da mesma idade que eu. Minha mãe bem que tentou segurar-me trancada em casa, mas foi vencida no cansaço e juro que ainda hoje converso com ela sobre isso, afirmo não entender a sua disponibilidade em deixar-me solta na rua. Desta forma aproveitei: pulei muros pra roubar goiaba, manga e jambo, brinquei de bola (chutava a canela de quem podia), stop, mata e manja esconde (é como se diz por aqui), fui ao matagal encher um monte de saco de padaria com maracujá - do- mato. Tentei empenar papagaio, mas só deixava meu irmão fulo comigo porque os outros moleques cortavam sem dó nem piedade, apostei corrida de bicicleta, corri na chuva, enfim usei bem meus momentos de “liberdade” enquanto criança.
Daí da profusão de memórias de repente veio uma outra lembrança: ao fim da tarde destes dias quentes, aos sábados ou domingos, quando meu pai não saia, ele sentava-se numa espreguiçadeira velha colocava seus LPs ou CDs dos Beatles e começava cantar. Todas as vezes que fazia isso eu me aproximava sentava perto e junto tentava acompanhar com a minha voz infantil o tom do meu pai e da musica. Seguíamos os encartes pra poder entender e pronunciar direito, marcávamos os tempos, os compassos das musicas, entre uma pausa e outra pra tomar água contava histórias sobre a banda. Pelo meu pai descobri que existia um lugar chamado Liverpool e que Paul, Lennon, George e Ringo eram os nomes dos quatro carinhas nas capas dos Lps. Ele sempre gostou de musica e ainda gosta, aprendi a gostar muito de Beatles por causa dele, aprendi a gostar de musica por causa dele. Hoje ouço Octopus's Garden, canto e recordo que essa canção cantavamos juntos e a sabiamos de cor, ele me dizia: Gosto muito dessa musica – sorria pra mim. E hoje respondo: Também Pai, essa é a minha musica preferida.
Daí da profusão de memórias de repente veio uma outra lembrança: ao fim da tarde destes dias quentes, aos sábados ou domingos, quando meu pai não saia, ele sentava-se numa espreguiçadeira velha colocava seus LPs ou CDs dos Beatles e começava cantar. Todas as vezes que fazia isso eu me aproximava sentava perto e junto tentava acompanhar com a minha voz infantil o tom do meu pai e da musica. Seguíamos os encartes pra poder entender e pronunciar direito, marcávamos os tempos, os compassos das musicas, entre uma pausa e outra pra tomar água contava histórias sobre a banda. Pelo meu pai descobri que existia um lugar chamado Liverpool e que Paul, Lennon, George e Ringo eram os nomes dos quatro carinhas nas capas dos Lps. Ele sempre gostou de musica e ainda gosta, aprendi a gostar muito de Beatles por causa dele, aprendi a gostar de musica por causa dele. Hoje ouço Octopus's Garden, canto e recordo que essa canção cantavamos juntos e a sabiamos de cor, ele me dizia: Gosto muito dessa musica – sorria pra mim. E hoje respondo: Também Pai, essa é a minha musica preferida.
A foto acima é da polêmica capa do disco Abbey Road de 1969.
A.A.
Um comentário:
Moça este album é muito bom mesmo. Imagino que tu fostes uma criança absurdamente cheia de enérgia, isso reflete no teu amadurecimento, pois ainda és a menina levada e muleka. Conserva esta alegria de viver sempre, porque a única pessoa que pode fazer-te feliz e vc própria e ninguém mais. Reflete...
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